Na minha casa é impossível encontrar um local silencioso e isolado de tudo. Tenho um cão pequeno que parece não ligar nenhuma para o meu tempo de meditação e vivo num apartamento rés-do-chão, virado para uma estrada movimentada. Entre o entra e sai dos vizinhos, a passagem constante de carros e motas, a paragem do autocarro e o correr e ladrar do cão, torna-se uma missão impossível não ouvir nada. Nas minhas meditações matinais lá ficava eu concentrada em afastar os meus pensamentos e sempre à espera do momento em que iria conseguir fazer desaparecer tudo à minha volta. Numa manhã dei-me conta que tudo à minha volta desaparecia sim, não quando eu estava mais conectada comigo própria, mas quando me perdia nos meus pensamentos. Dei-me conta que, sempre que me "apanhava" a pensar em alguma coisa e mandava esse pensamento embora, voltava a ouvir os carros a passar, os passos das pessoas na rua, o barulho do mar! Dei-me conta, por outro lado, que sempre que vinha um pen...
de Carla Francisco