Existem pessoas que entram na nossa
vida e mudam a forma como vemos o mundo. Gladys foi uma delas para
mim!
Eu fiz 25 anos no mesmo dia em que
comecei a trabalhar no meu primeiro navio, o Queen Elisabeth II, e
foi lá que conheci a Gladys, uma senhora inglesa de 50 e poucos
anos.
Não sei bem o que pensava, nos meus 25
anos, sobre este assunto, mas lembro-me que durante toda a minha
adolescência havia um certo sentido de urgência em viver a vida,
com uma visão de vida parada e, de certa forma acabada, quando
passasse dos 30.
Eu, durante a minha adolescência, via
as pessoas à minha volta, com mais de 20 e tal, casadas, com uma vida
monótona, rotineira, já decida até ao fim das suas vidas, e sabia
muito bem que não era isso que queria para mim. Mas acreditava que
era assim que funcionava a vida, que eu ia crescer, “envelhecer”
e ficar igual, e por isso havia um certo sentido até de desespero
que batia cá dentro por ver os meus anos a passar e o meu fatal
destino a aproximar-se.
Eu nunca fui daquelas crianças que tinham pressa em fazer 18 anos e ficar mais velhas, pelo contrário, não tinha pressa nenhuma.
Eu nunca fui daquelas crianças que tinham pressa em fazer 18 anos e ficar mais velhas, pelo contrário, não tinha pressa nenhuma.
Depois com os meus 25 anos, eu já sabia que
eu era e podia ser diferente da vida daqueles com 20 e 30 à minha
volta, mas embora não pensasse muito nisso, a urgência pela vida
continuava e o receio pela monotonia garantida de uma vida adulta
também.
Talvez por isso a minha recusa em “assentar”, no sentido que todos os amigos e conhecidos o estavam a fazer. Talvez por isso a minha necessidade de procura de aventura, desafios e experiências novas.
Talvez por isso a minha recusa em “assentar”, no sentido que todos os amigos e conhecidos o estavam a fazer. Talvez por isso a minha necessidade de procura de aventura, desafios e experiências novas.
Mas foi então que eu conheci a Gladys
e todos os meus receios desapareceram e a minha urgência parou.
Com a Gladys aprendi que não importa o
que fazemos ou não fazemos agora, porque nunca é tarde para começar
e nunca é tarde para recomeçar, sejam as vezes que forem precisas e
seja com que idade for.
Com a Gladys aprendi que não havia
problema algum que ficasse algo por fazer, até porque não é
possível fazer tudo ao mesmo tempo e num determinado momento.
Com a Gladys aprendi que podia errar, escolher um caminho e mudar de ideias mais tarde, porque há sempre tempo para mudar e para começar a viver.
Com a Gladys aprendi que podia errar, escolher um caminho e mudar de ideias mais tarde, porque há sempre tempo para mudar e para começar a viver.
A Gladys estava como eu a fazer o seu
primeiro contrato de trabalho em um navio de cruzeiro.
Com 50 e poucos anos ela já era viúva
de um marido e divorciada de um outro. Tinha 3 filhos, agora todos
casados e também com filhos.
Ela e eu éramos companheiras de quarto e talvez por isso criamos uma amizade mais forte.
NUNCA mais me esquece o dia em que ela
às gargalhadas se virou para mim e disse, “Carla, nunca pensei que
eu ia começar a viver depois dos meus 50 anos.”
E como vivia … era a mais maluca de
todas nós, com mais energia do que todas nós, com mais vida, com
mais boa disposição.
A sua alegria e energia eram tão contagiantes que não faltavam rapazes de 30 e poucos anos atrás dela a querer namorar com ela. E como ela namorou … e dançou … e riu …. Mostrou-nos a todas que a idade não é um fator relevante, mais do que isso, que é insignificante.
A sua alegria e energia eram tão contagiantes que não faltavam rapazes de 30 e poucos anos atrás dela a querer namorar com ela. E como ela namorou … e dançou … e riu …. Mostrou-nos a todas que a idade não é um fator relevante, mais do que isso, que é insignificante.
Até então a Gladys era uma senhora
como muitas outras. Tinha muito jovem começado uma família e era
uma dona de casa, que também tinha um trabalho, e que vivia para
cuidar do seu marido e filhos.
Mas os maridos foram-se, os filhos foram-se, e a Gladys viu-se sozinha numa casa grande demais, num emprego que já não a satisfazia e numa vida que a começava a sufocar.
Mas os maridos foram-se, os filhos foram-se, e a Gladys viu-se sozinha numa casa grande demais, num emprego que já não a satisfazia e numa vida que a começava a sufocar.
Foi então que num ato de coragem decidiu aventurar-se e mudar a sua vida. Mas nunca, nunca, nunca, lhe passou pela cabeça que a sua vida, a sua própria vida, estava prestes a começar a ser vivida.
Com ela a minha urgência acabou! Eu
não mudei quem era e o que sabia muito bem que queria para mim, mas
havia uma visão de um futuro que me assustava um pouco, porque
acreditava, como muitos acreditam, que depois de uma certa idade
muitas coisas iam ser impossíveis de fazer.
Hoje em dia os conceitos sobre a idade
e a forma como as pessoas vivem nas diferentes fases das suas vidas é
bem diferente do que há 15 anos atrás.
Mas vejo ainda muita gente com crenças
formadas sobre quem podem ou não podem ser, ou o que podem ou não
podem fazer, de acordo com a idade que têm.
Pessoas com sonhos, que acham que já é
tarde de mais para os seguir.
Pessoas com vontades, desejos e
insatisfações que acham que já é tarde para mudar.
Pessoas que acham que já não têm
idade para aprender coisas novas, que não têm idade para demonstrar
afetos, que não têm idade para começar de novo.
Que idade têm estas pessoas? Umas têm
60 ou 70, outras menos de 50, e outras até nem 40.
Porque as limitações da idade não
dependem da idade, mas das crenças que cada um tem a respeito dela,
normalmente transmitidas pelos seus pais e todos aqueles à sua
volta.
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