Já alguma vez te aconteceu deixares ferver o leite?
Quando estamos acostumados a ferver leite no fogão, conseguimos de uma forma instintiva nos mover entre os nossos afazeres e o tempo necessário para chegar na altura certa de desligar a boca.
E é naquelas alturas em que nos distraímos com os nossos pensamentos que chegamos sempre tarde demais.
Quando nos lembramos, já o leite está a derramar.
E mesmo quando estamos lá, mesmo em frente ao fogão e a olhar para o fervedor, se a mente vagueia por outros lados, damos conta sempre tarde de mais.
A mente vagueia e não dá conta do que se está a passar mesmo à nossa frente.
Quando volta a si, já tem mais problemas com que lidar.
Este é um exemplo bem presente na vida de muita gente e pode parecer uma analogia que não tem nada a ver com a nossa vida do dia-a-dia, mas tem.
Neste caso, o leite derrama e é só mais trabalho e frustração para o nosso lado.
Mas na vida, quando o nosso "leite derrama", as consequências podem ser bem mais graves, quer para nós, quer para os que nos rodeiam, e especialmente na forma como afeta a qualidade dos nossos relacionamentos pessoais. Seja com o marido ou mulher, ou filhos, ou pais, ou colegas de trabalho.
Quando nos "salta a tampa" normalmente a explosão emocional surge como uma surpresa até para nós próprios.
Estávamos bem, de bem com a situação, ou até a sentir-nos capazes de lidar com e gerir a situação.
Estávamos calmos, metidos na nossa vida e a ver ou ouvir ou a fazer algo.
(Aparentemente).
E de repente vem a explosão. Assim como do nada.
A explosão emocional acontece por vezes com um berro. Por vezes até com agressão física, como quando uma mãe de repente dá um estalo ao filho. Por vezes com um descontrolo total de comportamento.
E depois vem a culpa.
Por vermos a surpresa no outro. Por sentirmos a incongruência entre o segundo antes e este agora depois.
Ora, ninguém passa de um estado calmo para um episódio de descontrolo de um momento para o outro.
Há um acumular de energia negativa que resulta em explosão. Há um desenvolvimento de agravamento emocional que vai acontecendo de forma imperceptível até para o próprio.
Porque a mente está lá, mas não está.
Pois não está presente a 100% na situação.
A mente vagueia com as dificuldades e preocupações da vida, com as coisas a fazer a seguir, com a urgência em terminar aquele tarefa ou conversa. E até com outras conversas interiores que vão surgindo invocadas por aquele momento.
E assim sendo,
Como podes evitar momentos de explosão emocional?
Da mesma forma que sabes que ao fim de algum tempo o leite ferve e sai para fora, e até sabes mais ou menos quanto tempo isso demora a acontecer, pela tua experiência de vida também já sabes de várias situações no teu dia-a-dia em que ao fim de algum tempo a tua tampa salta.
A preparar os filhos para a escola, por exemplo, ou em certo tipo de conversas ou com certo tipo de pessoas, ou com certos comportamentos de pessoas com quem trabalhas.
Esses são os momentos em que tens de estar mais atento(a). E mais presente.
Em que precisas de prestar atenção à forma como o teu corpo vai-se alterando e começas a ficar mais tenso(a), contraído(a), e até agitado(a) nos teus movimentos e voz.
Precisas de prestar atenção também à tua conversa interior que começa a surgir.
E já agora, deixo-te uma dica, que estes momentos são ótimos para descobrires estas conversas que tens a acontecer dentro de ti e as poderes resolver.
Ouvindo a tua conversa interior irás descobrir os teus limites!
Quais são esses limites nos teus relacionamentos com os outros, de que forma são ultrapassados, e o que precisas para que as tuas fronteiras emocionais não sejam invadidas.
Para que possas educar outra pessoa a respeitar os teus limites, seja um filho, um marido, ou outra pessoa qualquer, precisas primeiro de tu próprio(a) definires esses limites e prestares atenção à tua evolução emocional com a aproximação dos mesmos.
Se estás distraído(a), por vezes até porque estás no meio da situação a tentar lidar com ela (a tentar calçar os sapatos ao diabrete quando já estás atrasada?), e com a cabeça também noutro lugar, e aparentas ter o controle e tudo estar bem, e de repente explores ...
Eles não vão entender o porquê de tanto descontrolo.
Começam a ver-te apenas como uma pessoa que perde a cabeça por tudo e por nada e, para conviver contigo, aprendem a ignorar-te e a desvalorizar as tuas reações.
Ou seja, consegues o oposto de os conseguir ensinar a comportar-se contigo como desejas.
Não adianta chorar pelo leite derramado. E depois de um episódio de descontrole emocional também não.
Estes são uma oportunidade de aprendizagem de nós próprios e da visão que temos da forma como o mundo nos acontece e como os outros nos tratam.
Em vez da auto-crítica, que só destrói por dentro e torna o controle emocional ainda mais enfraquecido, podes parar e refletir do porquê da tua reação. E qual o significado que aquela situação estava a ter para ti e a tua percepção dos outros e de ti mesmo(a) naquele momento.
E podes numa próxima vez fazer por estar mais presente e consciente de ti próprio(a), e ires percebendo e avaliando a situação conforme ela acontece.
E vais ver que, mais de metade do que realmente te incomoda, é fruto de pensamentos que estás a pensar no momento, e não a situação em si.
E depois podes-te perguntar ... isto que eu estou a pensar é mesmo verdade? Tenho a certeza que é mesmo verdade? Ou serei eu que estou habituado(a) a interpretar assim?
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