Será possível, que aquilo que tu sentes que precisas, não é resolver problemas, mas sim tirar coisas do teu prato?
Pode parecer que é a mesma coisa, mas não é!
Antes de continuar vou pedir-te para fazeres um pequeno exercício que te vai ajudar a entender melhor a minha explicação.
Pega numa folha de papel e escreve uma lista com todas as coisas que precisas de fazer num dia. As mais complexas e as mais simples, as mais importantes e as aparentemente mais insignificante, as mais urgentes e aquelas que acabam por ficar para outro dia, mas pairam na tua mente.
Por exemplo eu, eu escreveria, tenho de alimentar os meus cães, tenho de cuidar da higiene dos meus cães, tenho de olhar pelo bem-estar dos meus cães, tenho de levar os meus cães à rua para as necessidades, tenho de levar os meus cães à rua para passear, tenho (no pensamento) de lhes dar banho e cortar as unhas.
Isto só sobre os meus cães, porque depois há sobre mim e sobre a lida da casa e sobre o gerir o dinheiro e as comprar e as contas a pagar. E depois há o trabalho e os textos que escrevo e que para mim são uma necessidade, e que por isso também são coisas que preciso de fazer e tenho de gerir o tempo para fazer.
Ou seja, escreve tudo na tua lista. Não importa se tens de fazer porque te sentes obrigado(a) ou se tens de fazer porque é uma escolha tua ou se tens de fazer porque é importante para ti e para o teu bem-estar.
Escreve tudo, todos os passos, que consomem a tua mente no teu dia com o "tenho de" e "preciso de".
Ok, já fizeste o exercício?
Muitas vezes passamos os nossos dias a tentar resolver problemas e a completar tarefas.
Ainda temos a loiça para lavar, por exemplo, e enquanto fazemos outras coisas, que pode até ser o ter de ver a nossa série favorita ou o ter de parar um pouco para descansar, ficamos com este pensamento de fundo com a lembrança desta tarefa a ser cumprida. Multipliquem isto por cem tarefas e já podem começar a perceber o cansaço e ansiedade mental.
Achamos por isso, que lavar a loiça e a ter toda limpa e colocada no seu lugar resolve o nosso problema, mas depressa percebemos que aquela sensação de alívio e bem-estar de tarefa cumprida só dura uns minutos (ou segundos) pois já temos mais coisas a fazer e até a loiça estará novamente à nossa espera dali a mais umas horas.
As tarefas diárias, que podem ser mais repetitivas, como no caso da loiça, ou mais diversificadas, como situações a resolver no trabalho, na família, ou na gestão da nossa vida, são diárias e nunca se esgotam.
Não há quantidade de resolução possível que vá diminuir a quantidade de afazeres, pois a única forma de diminuir-mos as tarefas é eliminar esse campo por completo.
Por exemplo, se eu deixo um certo trabalho, todos os afazeres diários com esse trabalho desaparecem. E se eu tenho um acidente e deixo de poder caminhar durante uns dias, também todos os afazeres que envolvem a minha deslocação, irão por esses dias desaparecer.
Mas mesmo assim não dura muito tempo, pois rara é a pessoa que não preenche imediatamente o seu tempo livre recentemente conquistado com novos afazeres e problemas a serem resolvidos.
Faz parte da nossa existência ...
O precisar de ter coisas para fazer, para assim sentir que faz sentido viver.
Na verdade, muitos dos nossos afazeres poderiam ser apenas coisas que fazemos e a receber a nossa atenção na hora em que as fazemos, em vez de serem uma constante lista mental com um √ (feito) na hora em que as completamos.
E desta forma é muita coisa. Todos os dias é muita coisa a ser feita e a ser resolvida.
Muita coisa que requer a nossa ação e que precisamos de fazer para uma vida minimamente organizada, funcional e bem sucedida.
Sentimos assim por vezes que temos estes pesos a nos puxar para trás. Problemas a resolver no trabalho que nos roubam tempo e sossego para planear o futuro. Situações pessoais, com a casa, com a família, que nos fazem sentir presos e sem conseguir parar e focar no caminho que queremos construir e a vida que queremos seguir.
É natural por isso, esta constante necessidade de querer completar tarefas, de querer resolver os problemas o mais rápido possível para assim podermos dar continuidade ao nosso ser.
É natural sentirmos que com menos coisas a fazer e com mais problemas resolvidos, as coisas possam então funcionar do jeito que tanto desejamos.
Mas esse dia parece que nunca mais chega, pois não?
Aquela pessoa que por opção, ou sem ela, ficou sem trabalho, ficou realmente com mais tempo livre?
O casal que arranja uma empregada doméstica ou alguém para cuidar dos filhos, ficou com mais tempo livre?
Talvez sim, mas se sim, esta pessoa começou a mudar a sua vida, mudando na sua mente, muito antes da mudança acontecer.
Se sim, então houve uma mudança de consciência pessoal, que a levou depois a outros caminhos.
Porque enquanto a mente está em modo de resolver problemas e completar tarefas e a achar que depois de as fazer irá ter mais tempo e sentir-se mais leve e calma, então isso nunca irá acontecer.
Porque completa uma e tem outra. E resolve uma e aparece outra.
A vida é um ciclo onde nunca realmente saímos do lugar até que o ciclo seja quebrado e dê origem a outro.
E quando há essa mudança de consciência, o que é que isto significa? Que a pessoa decidiu eliminar componentes da sua vida?
Não, isso não é suficiente. Elimina uns, arranja outros.
Quererá dizer que a pessoa decidiu simplificar as suas tarefas, recorrer a ajuda, e querer menos para si?
Uma pessoa com recursos pode, por exemplo, decidir não cozinhar mais em casa e utilizar esse tempo para usufruir do seu dia.
Embora isto posso ser aparentemente uma solução, voltamos ao mesmo. Pois não havendo antes a tal mudança de consciência, o desejado tempo livre só irá servir para ser ocupado com outras coisas, nem que seja preocupações mentais.
E com a mudança de consciência, percebemos que dinheiro e recursos dão jeito sim, e facilitam a vida, mas não são de todo necessários.
A mudança de consciência acontece quando percebemos que a vida é cheia de componentes e tarefas que requerem a nossa ação e nós gostamos disso.
Gostamos de ter coisas para resolver. Gostamos de nos sentir úteis. Gostamos de ter motivos para agir e assuntos que invocam a nossa ação e movimento.
Gostamos de ter uma vida preenchida e complexa, e quando por vezes sentimos que está um pouco monótona e aborrecida gostamos de a complicar um pouco.
Gostamos de ter coisas para fazer, pois sem elas não temos nenhum motivo que invoque a nossa ação. E sabemos que isso leva a desânimo, apatia e depressão.
A mudança de consciência acontece quando percebemos que tudo o que trazemos para a nossa vida, entra no nosso prato.
E temos de ter cuidado para não encher demais o nosso prato e já não conseguir mexer em nada sem que algo caia fora.
A mudança de consciência acontece também quando de uma forma mais consciente escolhemos o que queremos colocar no nosso prato. Na quantidade e qualidade certa, para que não fique muito cheio, mas também não muito vazio. Pois um prato onde não decidimos o que lá colocar para o preencher, é preenchido de forma aleatória pela vida.
Mas há uma lição ainda mais importante.
Que é que não importa tanto se o prato está mais cheio ou mais vazio ou com mais coisas que gostamos ou detestamos, quanto o estarmos capazes de lidar com o que está no nosso prato.
De uma forma ou doutra, o prato vai estar sempre cheio. De uma forma ou doutra, vão haver sempre problemas e ser resolvidos e tarefas a ser cumpridas.
Acho que no fundo toda a gente sabe isto.
A diferença está entre sentirmo-nos capazes de as fazer ou não.
Muitas vezes sentimos que queremos eliminar problemas, porque queremos menos assuntos para resolver na nossa vida.
Entra a ilusão de que ... resolvo isto e tudo fica bem!
Mas o que estamos a sentir é a necessidade de tirar coisas do nosso prato. Porque sentimos que está muito pesado. Muito pesado para aquilo que nos sentimos capazes de aguentar.
E mais ainda, numa situação onde já sentimos que temos mais do que o que conseguimos aguentar, como nos vamos permitir trazer coisas novas para o nosso prato?
Seja um novo negócio, uma promoção, um novo relacionamento, decidir ter um filho ... tudo isto somos bem capazes de imaginar o trabalho que vai dar e o mais do tempo que nos vai "roubar", e se sabemos que o nosso prato já não aguenta com mais nada em cima, não vamos querer complicar ainda mais a nossa vida.
E como o prato nunca vai ficar mais vazio, o que nos resta fazer entao?
Viver a vida a reclamar e a sofrer?
Evitar situações novas e adiar projetos pessoais?
Ou cuidar de nós, para sermos capazes de segurar o nosso prato?
Haverá mesmo algum outro tipo de alternativa?
Cuidar de nós, do nosso corpo e da nossa mente, torna-nos mais capazes, mais ágeis, mais eficazes.
Mais ilimitados nas nossas capacidades de ação e decisão.
Mais expansivos, e mais capazes de lidar com todos os aspetos do nosso prato.
Mais abertos e recetivos a novas possibilidades, ideias e soluções.
Cuidar de nós é a solução para a resolução de todos os nossos problemas.
Pois os problemas deixam de ser problemas e passam a ser atividades que gostamos de cumprir.
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