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Devemos Ou Não Devemos Aceitar?


A aceitação é imprescindível para o amor-próprio e, ainda mais do que isso, é necessária para que possamos ser e emitir uma energia de amor que nos traz de volta uma vida de facilidade, alegria, abundância e realização pessoal!

Devemos então aceitar tudo como é? De forma nenhuma!!! Como digo no meu livro, "Nada A Perdoar", há coisas que não devemos mesmo aceitar e às quais precisamos dar um basta.

Devemos não aceitar o que é mau, mas aceitar que é assim que é.
Devemos não aceitar o que nos fizeram ou fazem de mal, mas aceitar que fizeram ou estão a fazer.

E é aqui que entra a confusão e muitas pessoas fazem tudo ao contrário!
Na necessidade de serem boas pessoas ou superiores à situação ou largarem a culpa dos sentimentos negativos que sentem ou não ser julgadas pelos outros como menos espirituais, acabam por fazer uma busca para aceitar o que está em causa e conseguir entender e justificar a situação ou o comportamento do outro. Ao mesmo tempo que intensificam ainda mais a falta de aceitação por quem são.

Não aceitar o que está mal é fundamental para que a situação possa mudar.
Mas aceitar que está mal é fundamental para que essa mudança possa acontecer.

É confuso não é? Isto porque estamos a usar as mesmas palavras e em relação a uma mesma coisa, havendo apenas uma ligeira mudança de ponto de vista que se traduz numa gigantesca diferença.

Para conseguir explicar melhor vou usar como exemplo uma casa que tem o jardim cheio de ervas daninhas.
Se o dono da casa decidir que a emoção negativa que sente de cada vez que olha para o seu jardim é má para si, poderá procurar encontrar uma forma de sentir-se bem de cada vez que olha para o jardim.
Poderá até, para um ser mais empenhado, procurar sentir apreciação pelo seu jardim, tal como está.

Mas como pode uma pessoa olhar para o seu jardim cheio de ervas que estão a danificar-lo e a roubar-lhe a beleza e sentir apreciação ou simplesmente satisfação?
Não pode!
Mas pode fazer por ignorar ao máximo até começar a habituar-se e tornar-se emocionalmente dormente a esta situação que não corresponde de todo às suas intenções e desejos pessoais.

E neste estado dormente a pessoa perde-se de si própria e esquece quem é, o que prefere, o que deseja e o que para si é importante.
Cada vez mais contenta-se com menos, aceita ainda pior, e vê algo que começou com uma simples erva a tornar-se num mato descontrolado que parece impossível de resolver.

Mas por outro lado, se a pessoa der um basta e decidir que não, nunca, jamais, aceita algo assim na sua vida, e se for logo no início ainda melhor, então irá manter dentro de si, vivos e despertos, os seus limites que não permite que sejam ultrapassados.

E é por isto que eu vejo sempre como algo positivo o "bater no fundo do poço", porque ter-mos uma autoestima assim tal alta que não dá espaço para esticar nem um milímetro os nossos limites não é fácil, e o mais comum até é sermos lentamente "empurrados" a aceitar situações que só olhando para trás conseguimos perceber o quanto nos roubaram de nós mesmos.

Somos literalmente cozinhados em lume brando e só damos conta da queimadura quando a dor se torna insuportável. E é neste ponto, normalmente, que o basta é dado e tudo começa a mudar.

Quando esse basta finalmente é dado dentro do coração, de repente, e como que por magia, tudo resolve-se. Encontramos a solução, a ajuda, a resposta, a forma, a ideia, etc, etc, e muitas vezes até acontece algo que resolve a situação por nós sem que tenhamos de mexer uma palha a respeito.

E não há ninguém que tenha passado por um momento assim e não entenda exatamente o que eu estou a dizer. Naquele momento, como num clique, tudo resolve-se dentro de nós, e assim o nosso ser abre as portas para outra possibilidade.

Sem este basta nada muda. E sem vermos e reconhecermos o que é como sendo mau não iremos dar esse basta!

Reconhecer que, isto não é o que eu quero, não é quem eu sou, não é a minha vida, é deixar a luz do nosso verdadeiro eu entrar e mostrar-nos o que realmente queremos, quem realmente somos e como realmente é suposto ser a nossa vida.

E tudo isto é só em relação a algo que nos aconteceu ou nos foi feito?
Não, não é. É também em relação às nossas falhas para connosco e ao que criamos ou estamos a criar de mau nas nossas vidas.

Tudo o que é mau é assim que deve ser visto, como mau, e se não é algo que deliberadamente escolhemos para a nossa vida, então também não é algo que devemos aceitar.

Mas como fazemos isto sem mergulharmos o nosso ser na emoção negativa movida por rancor, ressentimento, mágoa, tristeza, medo, culpa, etc?

De todos os aspetos do desenvolvimento pessoal este será com certeza o mais difícil de trabalharmos e alcançarmos, porque exige um grande jogo emocional e consciência bem definida de quem somos, do lugar onde estamos, e de para onde queremos seguir.

E o primeiro passo é aceitar que, seja o que for que esteja a acontecer, não faz de nós errados, nem é um erro nas nossas vidas!

Aceitar o que é como parte do caminho, um processo, um degrau, um obstáculo mais ou menos necessário ... algo que por algum motivo criamos na nossa vida, ou por palavras mais soft, algo que atraímos para a nossa vida, e que exige o nosso fortalecimento pessoal para estarmos dispostos a receber mais e melhor para nós.

E se não é errado, então é certo!
É certo o que está a acontecer? Não. É certo que está a acontecer. Até porque não temos outra hipótese, mesmo o que está agora a acontecer já foi feito e não podemos desfazer, e tentar evitar, ignorar ou desvalorizar não muda o que é.
Só nos resta mesmo aceitar! Aceitar que é o que temos no momento. Se é uma porcaria que alguém nos fez ou nós fizemos, reconhecer essa porcaria tal como é, sem a tentar cobrir ou embelezar ... mas sem que isso faça de nós errados!

Este aceitamento incondicional tem de ser em relação a nós próprios e a como nos vêmos em relação à situação que temos ou que nos fizeram. Só assim podemos amar-nos verdadeiramente e ser a energia positiva no mundo que desejamos ser.

Aceitar que estamos certos. Aceitar as nossas falhas sem nos sentirmos uns falhados. Aceitar as falhas dos outros sem nos sentirmos não merecedores de amor, respeito e apreciação. Aceitar as dificuldades e os obstáculos sem nos sentirmos alvo de castigo ou injustiçados.

Aceitar que, apesar de que o que temos não é o que queremos, é assim que está a ser, e o nosso ser e a nossa vida É CERTA, É VÁLIDA e TEM VALOR!!!

Dito tudo isto, voltemos então à mesma questão, como é que conseguimos fazer isto?
Como é que aceitamos que está a acontecer sem aceitar o que está a acontecer?

Aceitamos sentindo emoção positiva e não negativa. Sentindo, quanto mais não seja, segurança, conforto e calma, ao invés de medo, culpa e raiva.
Voltando ao exemplo do jardim cheio de ervas, isto então significa que vamos olhar para o jardim e sentir-nos confortáveis com a situação? Não. Significa que vamos sentir-nos confortáveis em nós mesmos e com nós mesmos, sabendo que o desastre que está a acontecer no nosso jardim não nos define, nem faz de nós errados. E que sim, é temporário!

Vamos então largar a autocrítica, que podemos não ouvir, mas sentimos na forma como nos sentimos sobre nós e sobre a nossa vida.
E vamos também calar as vozes de todos os outros que olham para o nosso jardim e nos fazem sentir errados ou que esperam (ou exigem) que façamos alguma coisa a respeito.
E vamos, acima de tudo, aprender a aceitar o julgamento negativo dos outros em relação ao nosso jardim e entender que eles nada sabem sobre quem verdadeiramente somos e tudo o que ainda temos para ser.

Vamos também aprender a dar tempo ao tempo, porque aceitar incondicionalmente significa que nos aceitamos mesmo que nada mude e que tudo continue a ser tal como é.

E vamos dar mais tempo de antena a sentir a verdade que nos pertence e que sentimos a puxar por nós dentro de nós, que justamente por não ouvirmos sentimos emoção negativa, e achamos erradamente que essa emoção negativa representa algo errado em nós.

E então tudo muda!
Porque só este amor-próprio verdadeiro nos fortalece e nos dá as ferramentas necessárias para definirmos e impor-mos os nossos limites. E assim querermos, exigirmos e aceitarmos melhor para nós.

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